Trabalho e política no cotidiano da autogestão: o caso da rede Justa Trama

São Paulo : Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, 2013. Tese de Doutorado em Psicologia Social.

Andrada Cris Fernandez, 2013

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Resumo :

O crescente desenvolvimento da Economia Solidária no Brasil, disparado pela Crise do Emprego dos anos 90, exigiu de muitos trabalhadores a dedicação a ações econômicas e políticas mais amplas. Por meio da interação com diversos atores e instituições, passaram a criar e a modificar processos, nos modos de gerir o trabalho, de comercializar produtos, de obter crédito, de praticar intercooperação, no ânimo resistente de gerar trabalho e renda e de organizar outra economia. Esta pesquisa propõe compreender uma dessas experiências, a Justa Trama, rede autogestionária que reúne cerca de seiscentos trabalhadores, de sete empreendimentos de todas as regiões do país. Abarca grande parte dos elos da cadeia produtiva têxtil, do plantio do algodão agroecológico à confecção final. A pesquisa objetivou identificar e descrever as principais relações entre trabalho e política no cotidiano desses trabalhadores. Como referencial metodológico, adotou a etnografia, e como ferramentas, a observação etnográfica combinada a entrevistas prolongadas. Um extenso trabalho de campo permitiu acompanhar atividades políticas da rede entre 2010 e 2012, em onze incursões. Como resultados, apresenta casos que ilustram como os trabalhadores conciliam demandas do trabalho e da política, e assim constroem e sustentam a rede no cotidiano; que alimentos e entraves encontram e que recursos têm desenvolvido para operar com eles. As entrevistas fundamentaram a exposição de narrativas sobre o processo histórico de organização da rede, outro importante resultado. Os principais apoios teóricos da pesquisa são as obras de Agnes Heller sobre cotidiano e história. Concluiu-se que os espaços políticos da rede não são os elos em separado, mas os encontros onde estão representados e ativos todos os elos. Ali os trabalhadores comungam de uma identidade coletiva e dedicam-se ao desenvolvimento do empreendimento que criaram. As práticas cotidianas da rede revelaram uma tensão dialética constante. Significa viver, enquanto trabalhadores, os efeitos das contradições do modo de produção capitalista mas também construir recursos para esquivar-se deles e, muitas vezes, agir politicamente no sentido de criar outro paradigma econômico, não sem dificuldades. A rede Justa Trama revelou-se dialeticamente como organização econômica, cujo fim é gerar renda, e como organização política, de resistência ao modo de produção capitalista, por meio de práticas apoiadas em valores humano-genéricos. Concluiu-se também que a política no cotidiano da autogestão da rede pode ser entendida como inerente ao trabalho. E o trabalho, por sua vez, pode ser tomado como objeto da atividade política do grupo de trabalhadores.

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